Nunca me interessei por carros, acho que a música logo entrou na minha vida de modo que nenhum outro “assunto” ocupou mais minha atenção do que ela.
Dia desses, caminhando no canteiro de uma avenida e respirando monóxido de carbono enquanto finjo que tá tudo bem um carro passou numa velocidade absurda - não sei dizer quanto, mas acredito que beirava os 100km/h.
Era sábado à tarde, não tinha trânsito, tava um clima agradável, nem tão quente e nem frio, ainda assim eu era o único imbecil atleta caminhando ali.
Eu tava de fones, na hora tocava Nailbomb, e ainda assim o barulho e o vento que aquele outro imbecil fez ao passar voando me deu puta susto. Minha reação imediata, como em quase tudo na vida, foi praguejar algo em pensamento, neste caso: “tomara que capote, desgraçado” - nada aconteceu, mas uma vez numa situação semelhante, só que com uma moto, ela realmente capotou. Ah e, claro, isso não quer dizer que eu tenha algum poder paranormal, só significa que se você está a uma velocidade alta a probabilidade de sofrer um acidente é muito maior.
Fiquei pensando que se aquele carro tivesse atropelado alguém ou batido e fugido, eu tava ali sozinho e não ia ter muito como testemunhar…
- Então, Seu Guarda, era um carro azul… Quer dizer, talvez verde, hmmm não sei dizer…
- Ok, senhor, mas qual carro era?
- Ih, rapaz…
- ???
- É que hmmm não sei dizer…
- Mas o senhor não viu?
- Ver eu vi, mas não sei dizer…
- Comassim?
- Ah, era um carro, hmmmm, desses, hmmmmm, tipo, hmmmmm novos, sabe…
- Novos?
- Hmmmm é, hmmmm acho que sim, mas hmmmm não sei dizer…
Provavelmente ele ia dizer alguns nomes e eu ia bugar ou ficar nos hmmmm tal qual Beavis & Butthead assistindo clipes na finada MTV.
Eu não dirijo e os únicos carros que sei distinguir são os velhos e/ou algum que meus pais tinham quando eu era criança nos anos 1980 ou adolescente nos 1990.
Nesse caso, eu só poderia testemunhar algum acidente automobilístico se envolver um Fusca, uma Brasília, um Passat ou um Gol - esse eu sei dois: o quadrado e o novo - que no caso seria o bolinha, fabricado lá em meados dos anos 1990.
- O senhor é a única testemunha, o quê aconteceu?
- Então, Seu Guarda, o Fusca fechou o Passat e o Gol quadrado pra desviar acabou acertando aquele Gol bolinha!
- O senhor tem certeza?
- Tenho sim…
- Mas recebemos um aviso de outra ocorrência, seria um sequestro também aqui na avenida, o senhor viu algo?
- Ah, vi sim, uma Brasília fez um movimento estranho ali atrás perto da pracinha e saiu em disparado!
- Passou pelo senhor?
- Sim, voando! Uns 200km/h!
- Uma Brasília a 200km/h, senhor?
- Ô, Seu Guarda, de carro eu entendo, pô!
ps* Nailbomb foi o projeto que Max Cavalera, então do Sepultura, formou em 1994 com Alex Newport, que na época era do Fudge Tunnel. Naquele ano saiu Point Blank, o único disco de estúdio, e em 1995, no Dynamo Open Air Festival, na Holanda, eles fizeram o primeiro e único show. A apresentação contou com alguns músicos se revezando, entre eles D.H. Peligro [R.I.P.], que foi do Dead Kennedys, David Edwardson, do Neurosis, Scoot, do Doom, Rhys Fulber, do Front Line Assembly, Evan Seinfeld, do Biohazard, e Igor Cavalera. Isso foi registrado e saiu em CD com o belo nome Proud To Commit Commercial Suicide e no YouTube é possível ver a apresentação caótica abaixo - coisa que faço, pelo menos, uma vez por ano.
que texto hilário, yuri! adorei demais, os tachados na escrita são o mojo da história hahahah
Padeço do mesmo desconhecimento. Quando peço Uber foco na cor e na placa. Só conheço Fusca, Brasília, gol e Versa.