Minha bateria social muito se assemelha a de um celular velho, sabe, você coloca para carregar: dá 100% e quando despluga já desce para, tipo, 89% e aí você abre o Spotify ou algo assim e sai de casa e quando olha marca 70%… Isso sem nem de fato chegar a ter uma interação lá muito aprofundada.
Na terapia eu disse que isso não me incomodava, não exatamente a bateria velha, mas a distância que se tornou comum entre meu ser e o de qualquer outro - e, sei lá, acho que é um caminho meio sem volta.
Depois de um evento social - aka ida à clínica onde passo por consulta com uma Neuropsicóloga - senti que fui murchando.
Voltando para casa, entrei em um supermercado ainda próximo à médica, na intenção de comprar uma água com gás com sabor que experimentei esses tempos e gostei, mas não tinha gelada. Dei umas voltas pelos corredores e vi que tudo ali era muito caro e que tinha uma enorme variedade de produtos e muitas novidades - tipo a bolacha da Bala 7 Belo, WTF?!
Uma olhada bem rápida no Google, só por curiosidade, diz que a bala foi criada em 1954, imagina quantas vidas foram ceifadas engasgadas com essa porra coisa sabor “framboesa”.
Circulando sem pressa, eu precisava me distrair, fui na parte de hortifruti e era tudo tão absurdamente caro que eu até saí meio correndo porque fiquei com medo de, sei lá, apertar um mamão pra ver como tava e esmagar ele e ter que pagar.
Mas deu tempo de ver algo bizarro: pimentões amarelos embalados um a um e vendidos a SETE JANJAS A UNIDADE!
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Era tudo tão caro e eu quase fiquei com pena de quem mora por ali, mas me dei conta que estando no bairro mais f4scist4 de São Paulo eu quero mais é que… Enfim, na fuga para o corredor de pets notei que a galera da segurança já batia o radinho um para o outro anunciando minha incômoda presença ali e comecei a ser meio rondado.
Já decidido a sair dali porque eu tinha entrado para tentar me distrair e não para me emputecer, me deparo com uma criatura, digamos, mitológica em forma de brinquedo para cachorro.
Não sei explicar, mas na hora achei que era um híbrido de Roberto Carlos com Pequeno Pônei, e talvez uma pitadinha de Dollynho [por ser verde e, claro, tosquinho], mas a verdade é que aquele ser me trouxe uma paz e, de alguma forma, fez uma magia acontecer e eu já estava em um ambiente seguro na minha mente.
Ao mesmo tempo que aquela criatura mítica me fascinava, eu me via nela: toda desengonçada, presa num mundinho a parte da sociedade e com um apático quase sorriso.
QUERO !1!!, O CAPITALISMO VENCEU FODACI, VOU COMPRAR SAPORRA AGORA !!1!!!, pensei.
Passo na maquininha de ver preço: 17 JANJAS!
É, alegria de pobre dura pouco, o balde de água fria de realidade veio de graça… Partiu casa chorar no box…
ps* a memória da criança que viveu os anos 80 me fez lembrar desta bela canção d´A Turma do Balão Mágico com um fuckin feat do Rei Roberto Carlos onde se exalta a amizade não importando a aparência de outrem - pena meu amigo Pequenopôneysson Carlos ser tão caro!
“É tão lindo, deixa assim como está...”
hahaha essa edição foi muito divertida, ainda que tenha te custado bastante psicologicamente (eu imagino). ir ao supermercado anda cada vez mais traumático, tô cada vez mais relutante pra fazer o L, mas váque deus tenha algo melhor guardado pra mim (não existe, não tem).