Ontem fez um mês que estou escrevendo aqui no Substack. Sabe o quê isso significa? Isso mesmo, nada… Brincadeira, mas quase nada, nem mesmo para as três ou quatro pessoas que às vezes passam por aqui.
Para mim até tem um significado, ainda que só me toquei que faz um mês porque hoje recebi uma curtida no primeiro post e ao clicar nele vi a data.
Eu escrevo profissionalmente desde 1999, mas antes disso eu já tinha feito meu próprio fanzine e colaborado para outros [ai, Gabi, o hardcore nos anos 90] e nesses últimos anos, inclusive pré-pandemia eu já vinha de uma sequência de frustrações que com o isolamento social só me fez pensar que não deveria mais escrever.
Isso já estava decidido na minha cabeça, inclusive na terapia acho que em Novembro do ano passado quando me perguntado sobre escrever fui enfático: não quero mais, não me interessa, já fiz tudo que poderia fazer, minha carreira estagnou, não tem mais para onde ir, yada yada yada…
Eu não mudei muito o pensamento quanto a isso, MAS vieram vinte e um textos publicados aqui na sequência - ao todo, contando com esse de hoje são vinte e quatro. Em um deles eu até faço uma reflexão sobre porque continuar escrevendo.
Eu acabei de ler Bartleby, O Escrivão, de Herman Melville [sim, o cara de Moby Dick], e a frase repetida inúmeras vezes pelo personagem principal me respondeu o quê me foi perguntado na terapia e a minha própria dúvida sobre continuar a escrever profissionalmente: eu preferiria não fazer.
É até libertador quando algumas peças se encaixam em nossa cabeça, mas é irônico que a única frase que anotei do livro foi: nada irrita tanto uma pessoa ansiosa quanto uma resistência passiva.
E, estando, entre tantas outras coisas, tratando na terapia minha ansiedade e ao mesmo tempo minha apatia Bartlebyana resistente sobre voltar a escrever, é aí que as peças voltam a se desencaixar.
Isso me lembra quando eu era criança e via aqueles quebra-cabeças enormes, lindos, montados e enquadrados numa moldura com vidro e no meu mundinho pessoal eu simplesmente jogava para o alto as peças quando tentava [e não conseguia] montar algum bem mais simples.
Seria de bom tom ter feito hoje um texto motivacional sobre persistir e vencer os quebra-cabeças que a vida apresenta ou algo assim, mas eu quero mais é que se foda as peças voem livres ao invés de ficarem presas umas às outras só porque as pessoas acham que é assim que tem que ser.
ps* legenda diretamente da letra de “I Wanna be your Joey Ramone”, do Sleater-Kinney.
ps** Me orgulho de ter, já nesse primeiro mês no Substack, escrito O TEXTO MAIS MEIA BOCA DE 2024, porra!
a gente escreve na apatia e na teimosia (tenho isso de vez em quando). mas pensa: você já ganhou o prémio de melhor texto meia boca, já indicou placebo pra esse povo e já meteule um zizek de camisetinha literária cool. isso é demais!
falando em texto motivacional de continuar a fazer as coisas, já faz umas duas semanas q vejo um pessoal de podcasts e instagram falando nas vantagens de desistir. desistir é libertador! (mas não desista, isso ñ vale pra você) hahahha abraço!