Ontem eu terminei de ler Voladoras, livro da Mónica Ojeda publicado no Brasil em 2023 pela editora Autêntica Contemporânea com tradução de Silvia Massimini Felix.
A escritora equatoriana vem sendo bem elogiada e tem um estilo bastante peculiar. Algum lugar que bati o olho na busca que dei sobre informações do lançamento do livro vi que a chamaram de gótico andino - algo que não tinha passado pela minha cabeça lendo.
Bom, vamos lá, são oito contos e a leitura, para mim, foi densa e, em alguns momentos, difícil. Talvez pelo estranhamento e acho que isso, inclusive, é um ponto positivo.
Não foi um livro que fiz muitas anotações, mas separei uma que acho que capta a beleza perturbadora de Ojeda:
…Sua mão é uma libélula adormecida na água.
Frágil, faz com que a minha pareça um pântano…
Eu nem tinha intenção de escrever sobre Voladoras, mas hoje me deparei com a arte de Caitlin Rose e, pelo frescor da leitura na mente, automaticamente pelo levou ao universo do livro.
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Penso que a trilha sonora, tanto para Ojeda quanto para Rose, me remete ao mundo de texturas e nuances da banda estadunidense SubRosa. Alguns chamam o som de sludge, outros de doom, seguido, geralmente, de um metal - eu acho que isso limita demaaaais, mas quem sou eu…
Quando a arte - seja ela qual for; aqui no caso literatura, pintura e música - nos tira da tal zona de conforto [ZzZzZzZz preguiça desse termo, mas…], ela nos desafia, desperta sentimentos ambíguos e acaba atiçando uma inquietude ao ponto de questionarmos nossa própria existência situação.
Vivo um momento onde além da terapia, passei recentemente por duas psiquiatras [Dra Inferna & Dra Fada] e uma neuropsicóloga e com tantos pensamentos ao mesmo tempo e a infeliz companhia de um bruxismo brutal, que Mónica Ojeda, Caitlin Rose e SubRosa parecem dar forma ao que muitas vezes nem consigo exprimir.
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Às vezes para sair do nosso inferno pessoal é preciso fazer um trajeto sinuoso onde o destino pode ser tão perturbador quanto. A arte poderia ser tanto este lugar quanto o meio de locomoção até ele, isso pouco importa, no fundo o principal é que ela consiga nos tirar do mundo real onde às é até impossível ver qualquer beleza.
Isto não é uma resenha de livro, vejo muitas muito bem escritas aqui no Substack, eu não tenho nem aspiração para tal. Pense nisto como aquele vômito seco na poltrona vaga ao lado da sua no cinema, que você entrou correndo depois que o filme recém começou, e todo mundo já havia sentado e então fez sentido ela estar vazia.
O cheiro azedo, tá incomodando, né? E você aí pensando se fica ou se vai…
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ps* escolhi esse disco do SubRosa, o No Help For The Mighty Ones [2011], que num iPod Shuffle muito me acompanhou numa rotina insana de trajeto para o trabalho naquela época. Lembro de ter baixado num blog gringo de post-rock e afins.
reli esse texto (estava planejando umas aulas, contra a minha vontade de usar computador em dia de descanso, MAS NÉ) e acabei relendo esse texto (aproveitei pra seguir a caitlin rose) e esse trecho final também é muito bom (e perturbador) (mas a vida não é toda ela perturbadora, afinal?)
"Pense nisto como aquele vômito seco na poltrona vaga ao lado da sua no cinema, que você entrou correndo depois que o filme recém começou, e todo mundo já havia sentado e então fez sentido ela estar vazia.
O cheiro azedo, tá incomodando, né? E você aí pensando se fica ou se vai…" - EITA, MANO.
"Às vezes para sair do nosso inferno pessoal é preciso fazer um trajeto sinuoso onde o destino pode ser tão perturbador quanto. A arte poderia ser tanto este lugar quanto o meio de locomoção até ele, isso pouco importa, no fundo o principal é que ela consiga nos tirar do mundo real onde às é até impossível ver qualquer beleza." isso aqui <3