Na saída da terapia uma chuva forte castigava o bairro mais f4scist4 de São Paulo.
Na porta da clínica as pessoas se amontoavam preocupadas em como iriam chegar aos seus carros que, veja bem, estavam estacionados há poucos metros dali.
Eu que iria caminhar cerca de 3 km achei melhor sentar e esperar; eu tava com meu Vaporetto, mas corria uma cachoeira na rua, conforme uma das amontoadas disse.
Abri o Spotify e, não pensei duas vezes: Rain When I Die, do Alice In Chains.
Assim como boa parte das músicas da banda, ela tem sutileza, peso, beleza, melancolia e uma parte do coração do Layne Staley - neste caso uma do Jerry Cantrell também, eles assinam juntos a letra.
Pelo que já li sobre, a letra fala das respectivas namoradas deles e, se você prestar atenção, é uma canção de amor, sim, mas sem clichês, ufa, e de certa forma angustiante - que talvez seja um dos temperos que deixam Dirt, o segundo disco da banda, tão único.
Tá certo que no grunge os principais nomes eram bem, note que eu disse BEEEEEM, diferentes entre si: Nirvana, Soundgarden, Pearl Jam e Alice In Chains, e é até covardia tentar debater quem sofria mais [bom, só o Eddie Vedder continua aí então sabemos quem talvez sofresse menos], mas acredito que ninguém expressou mais aflição / agonia, do que Layne Staley.
O principal tema da sessão na terapia hoje foi ansiedade e, baseado em dados da minha cabeça e foda-se ninguém vai ler isso aqui mesmo, Layne Staley era a pessoa mais ansiosa da porra do grunge do mundo.
Did she call my name?
I think it's gonna rain
When I die
Enquanto ouvia a música e colocava em prática a respiração 4-2-6 [aprendida na sessão para ajudar a controlar a ansiedade: puxa o ar pelo nariz por 4 segundos, segura por 2 e solta pela boca por 6], a chuva diminuiu, a cachoeira secou e eu pude ir embora, molhando aqui e ali, mas vivo.
ps* acima autorretrato que Layne Staley fez na mesma época que ilustrou a capa de Above, do Mad Season, grupo onde ele conseguia ser tão [ou mais] sombrio quanto no Alice In Chains. Um dos meus discos prediletos da vida, diga-se de passagem, como diria Crackneto.